
por Paulo Mussoi
Fonte: Blog Sobre Drogas
16 / 12 / 2009
Quando a gente defende um ponto de vista polêmico sobre qualquer assunto, é sempre bom encontrar respaldo em pessoas de inegável capacidade intelectual. E mais ainda quando esse respaldo vem de pessoas respeitadas na sociedade. Vejo no post abaixo a reprodução do artigo que o poeta Ferreira Gullar escreveu na Folha de São Paulo, quinze dias atrás, contra a descriminação da maconha. Para muitos, pode ser uma boa defesa do ponto de vista. Mas uma análise mais ou menos profunda do texto pode chegar facilmente à conclusão oposta.
Afora nos ensinar que a palavra "descriminação" substituiu oficialmente o neologismo "descriminalização" nos dicionários brasileiros (e este blog passa, portanto, a adotar a nova forma), Ferreira Gullar oferece, novamente, uma argumentação baseada em conceitos despidos de informação concreta, alguns equívocos históricos e muita, muita opinião (isso para não dizer "moralismo", em respeito ao histórico libertário e vanguardista do poeta). Opinião válida, claro, mas discutível ao extremo.
Afirma Gullar, por exemplo, que drogas leves levam a drogas mais pesadas, e diz que sabe isso "por experiência própria". O que é isso senão uma análise parcial, pouco isenta e reducionista do problema? Diz também o poeta que "o aparelho judicial e a polícia foram criados para combater o crime e defender a sociedade". Na Suécia, talvez. Mas no Brasil, qualquer estudante de sociologia sabe que o aparato judicial e a polícia subsistem há cinco séculos defendendo a elite político-administrativa e controlando as massas. O texto segue ainda afirmando que, com as drogas liberadas, "um pai de família não teria autoridade para proibir um filho de fumar maconha". E depois ainda diz que sofismáticos são os argumentos pró-legalização.
Gullar ainda diz que o Brasil não produz cocaína, misturando o conceito de plantação de coca com refino da droga, e a comparação com o Fernandinho Beira-Mar é insustentável, pois faz crer que a defesa da legalização das drogas pretende transformar traficantes assassinos em comerciantes legais. Chega a ser um desrespeito a quem discute o tema com seriedade. Mas tudo bem: desfiar as inconsistências do texto de Ferreira Gullar é fácil e pouco útil, porque joga novamente o debate para a eterna cortina de fumaça que o pautou nas últimas décadas. Prefiro deixar aqui um outro lado da moeda: um outro personagem de inegável respaldo intelecutal, respeitabilidade, fama e, creio eu, um tantinho mais de informação sobre o tema do que o poeta Ferreira Gullar. Trata-se do lendário economista americano Milton Friedman, um dois maiores teóricos do liberalismo e do capitalismo no século XX, que nos deixou há três anos. Vejam com seus próprios olhos na entrevista abaixo, concedida nos anos 80, o que um dos pais do "american way of thinking" pensa sobre a descriminalização (ou melhor: descriminação) das drogas:
http://www.youtube.com/watch?v=nLsCC0LZxkY